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segunda-feira, 18 de julho de 2011
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Flower power e web power
Felizmente, a marcha pela maconha foi considerada legal pelos caretas supremos do Tribunal Federal (será que eles já ficaram doidões algum dia?) Vendo os votos na TV, lembrei-me dos hippies, os velhos pais fundadores do "desbunde" tecnológico atual, que substituiu flores por blogs e intervenções na web.
Lembrei-me que estava em Londres em 1967, quando saiu o disco dos Beatles Sargent Pepper e lembro que em Kings Road havia uma espécie de "comício" dissolvido nos olhares, nos sorrisos das pessoas, com uma palavra de ordem que flutuava no vento, "blowing in the wind", como cantava o Bob Dylan. O mundo careta vivia ameaçado, de um lado pelo perigo do comunismo e, de outro, pela alegre descrença que os hippies traziam. O capitalismo rosnava de humilhação, condenado por fora e por dentro, como sistema injusto de produção, além de repressor da sexualidade. Hoje, mudou tudo. Onde estão os hippies? Melhor dizendo, onde estão os movimentos alternativos neste mundo careta?
Será que a vida vai ser sempre estes cappuccinos frappés, estas opções na Bolsa, estes fluxos de capital, estes implantes de seios, por toda a eternidade?
Será que só nos restou esta muralha corporativa, este exército de executivos globais vorazes? Não; agora é "webpower" em vez de "flower power".
O que houve no mundo foi o fim do sonho da unidade, o fim da possibilidade de uma "grande narrativa" - como dizem os pós-utópicos, perplexos e com uma pontinha de alívio da obrigação de grandes "relevâncias". O que acabou foi o "UM". Acabou o anseio totalizante de se achar uma única resposta, desejo antiquíssimo de tudo reduzir a um símile do corpo humano: a sociedade funcionando como um organismo sob controle. Isso se deu não só com o socialismo real, mas com o próprio capitalismo. Depois da queda do Muro de Berlim, a arrogância dos USA, sua vontade de unir o mundo todo numa grande mcdonaldização da vida também caiu por terra, pois o american way esbarrou nas diferenças culturais, na inércia da miséria, na tradição teocrática de tantos países, no crescimento populacional. O 11 de Setembro sacramentou a infinita fragmentação do mundo. O que morreu não foi o socialismo nem o hippismo; o que morreu foi a racionalidade "empombada" do Ocidente, a possibilidade de planejar algum futuro. Que futuro? O presente é incompreensível e o passado se alonga: os criminosos da crise de 2008 em Wall Street estão todos empregados e felizes, com bônus bilionários, enquanto a Europa se ferra.
O mundo se globaliza em economia, mas se "balcaniza" em ilhas culturais e psicológicas; melhor que "ilhas", o mundo se "desunifica" em esponjas, em vazios, em avessos, em "buracos brancos" que vão se alargando à medida que o tecido da sociedade "linear" se esgarça. Não são "células de resistência", mas "buracos de desistência".
A desesperança de mudar o mundo politicamente já está parindo filhos alternativos. Milhões de "manos" cibernéticos profanam alegremente a internet com redes e blogs.
Todos estes movimentos (seria melhor dizer "espasmos") - todos estes espasmos de defesa contra a opacidade do mundo são afásicos, por escolha. Odeiam o lero-lero ideológico e não se explicam nem a si mesmos. Não têm manifestos e, no entanto, todos se "unem" (oh, mania de tudo explicar, da qual não me livro!...) na recusa a levantar bandeiras, garantir certezas, a aderir a uma razão organizacional qualquer.
Há uma "tribalização" de grupos, sem proselitismo, há uma recusa ao mundo sem denunciá-lo, mas aceitando-o como algo irremediável. Por dentro de seu luto, as tribos se desenham. As primeiras tribos de jovens que antes professavam subculturas totalizantes, através de orientalismos bobos ou "holismos" diversos, hoje foram substituídas por brilhantes programadores de computação. O que os "anonimous" e mesmo outros "hacketativismos" mais apolíticos querem é alcançar uma identidade corrosiva. As tribos não querem a adesão de todos, pois elas não almejam o poder - almejam não tê-lo. Se antes a ideia de alienação era condenável, hoje a alienação é aquilo que se deseja alcançar.
R.U.Sirius, fundador da ciberrevista Mondo 2000, afirmou com precisão: "Se, antes, havia a polarização de ideologias em oposições binárias, pretos contra brancos, socialismo versus capitalismo, isso vinha da ideia de "sistema e contra-sistema", de "cultura e contra-cultura"." Essa oposição acabou.
Tudo era banhado pela luz atemorizante de uma futura mídia centralizada, buscando uma narrativa única. Mas, as distopias de Orwell ou Huxley foram superada pelos restos podres do mercado e pela "anomia" (e anemia) de qualquer projeto totalitário. Que teremos no futuro? "Que futuro?" - seria a pergunta certa. No mundo central, teremos fria competência no "mainstream" e "esponjas "alternativas" na periferia.
Hoje, a desesperança com qualquer hipótese de totalidade está parindo novas formas larvais de sobrevivência neste mundo decepcionante. E o que nos restará serão os buracos esgarçados por entre a solidez paranoica das corporações globais, estragando, como um terrorismo mudo, sua eficiência sinistra.
Essas tribos estão partindo para uma prática nietzschiana espontânea, pela produção de uma "arte-de-vida" (ou "vida-arte"), dividindo-se em grupos aparentemente antagônicos, mas coincidentes: não acreditam totalmente em nada.
Jean Baudrillard em seu ensaio A Ilusão Vital cita uma linda e profética frase de Heidegger: "Quando olhamos para a essência ambígua da tecnologia, nós contemplamos a constelação, o curso estelar do mistério". E Baudrillard, a ovelha negra das "Academias", conclui: "Além da Razão, além do discurso da "verdade", reside o valor poético e enigmático do pensamento. Pois, diante de um mundo que é ininteligível e problemático, nossa tarefa é clara: precisamos tornar este mundo ainda mais ininteligível, ainda mais enigmático".
Falou e disse.
Por Arnaldo Jabor para O Estado de S. Paulo
Lembrei-me que estava em Londres em 1967, quando saiu o disco dos Beatles Sargent Pepper e lembro que em Kings Road havia uma espécie de "comício" dissolvido nos olhares, nos sorrisos das pessoas, com uma palavra de ordem que flutuava no vento, "blowing in the wind", como cantava o Bob Dylan. O mundo careta vivia ameaçado, de um lado pelo perigo do comunismo e, de outro, pela alegre descrença que os hippies traziam. O capitalismo rosnava de humilhação, condenado por fora e por dentro, como sistema injusto de produção, além de repressor da sexualidade. Hoje, mudou tudo. Onde estão os hippies? Melhor dizendo, onde estão os movimentos alternativos neste mundo careta?
Será que a vida vai ser sempre estes cappuccinos frappés, estas opções na Bolsa, estes fluxos de capital, estes implantes de seios, por toda a eternidade?
Será que só nos restou esta muralha corporativa, este exército de executivos globais vorazes? Não; agora é "webpower" em vez de "flower power".
O que houve no mundo foi o fim do sonho da unidade, o fim da possibilidade de uma "grande narrativa" - como dizem os pós-utópicos, perplexos e com uma pontinha de alívio da obrigação de grandes "relevâncias". O que acabou foi o "UM". Acabou o anseio totalizante de se achar uma única resposta, desejo antiquíssimo de tudo reduzir a um símile do corpo humano: a sociedade funcionando como um organismo sob controle. Isso se deu não só com o socialismo real, mas com o próprio capitalismo. Depois da queda do Muro de Berlim, a arrogância dos USA, sua vontade de unir o mundo todo numa grande mcdonaldização da vida também caiu por terra, pois o american way esbarrou nas diferenças culturais, na inércia da miséria, na tradição teocrática de tantos países, no crescimento populacional. O 11 de Setembro sacramentou a infinita fragmentação do mundo. O que morreu não foi o socialismo nem o hippismo; o que morreu foi a racionalidade "empombada" do Ocidente, a possibilidade de planejar algum futuro. Que futuro? O presente é incompreensível e o passado se alonga: os criminosos da crise de 2008 em Wall Street estão todos empregados e felizes, com bônus bilionários, enquanto a Europa se ferra.
O mundo se globaliza em economia, mas se "balcaniza" em ilhas culturais e psicológicas; melhor que "ilhas", o mundo se "desunifica" em esponjas, em vazios, em avessos, em "buracos brancos" que vão se alargando à medida que o tecido da sociedade "linear" se esgarça. Não são "células de resistência", mas "buracos de desistência".
A desesperança de mudar o mundo politicamente já está parindo filhos alternativos. Milhões de "manos" cibernéticos profanam alegremente a internet com redes e blogs.
Todos estes movimentos (seria melhor dizer "espasmos") - todos estes espasmos de defesa contra a opacidade do mundo são afásicos, por escolha. Odeiam o lero-lero ideológico e não se explicam nem a si mesmos. Não têm manifestos e, no entanto, todos se "unem" (oh, mania de tudo explicar, da qual não me livro!...) na recusa a levantar bandeiras, garantir certezas, a aderir a uma razão organizacional qualquer.
Há uma "tribalização" de grupos, sem proselitismo, há uma recusa ao mundo sem denunciá-lo, mas aceitando-o como algo irremediável. Por dentro de seu luto, as tribos se desenham. As primeiras tribos de jovens que antes professavam subculturas totalizantes, através de orientalismos bobos ou "holismos" diversos, hoje foram substituídas por brilhantes programadores de computação. O que os "anonimous" e mesmo outros "hacketativismos" mais apolíticos querem é alcançar uma identidade corrosiva. As tribos não querem a adesão de todos, pois elas não almejam o poder - almejam não tê-lo. Se antes a ideia de alienação era condenável, hoje a alienação é aquilo que se deseja alcançar.
R.U.Sirius, fundador da ciberrevista Mondo 2000, afirmou com precisão: "Se, antes, havia a polarização de ideologias em oposições binárias, pretos contra brancos, socialismo versus capitalismo, isso vinha da ideia de "sistema e contra-sistema", de "cultura e contra-cultura"." Essa oposição acabou.
Tudo era banhado pela luz atemorizante de uma futura mídia centralizada, buscando uma narrativa única. Mas, as distopias de Orwell ou Huxley foram superada pelos restos podres do mercado e pela "anomia" (e anemia) de qualquer projeto totalitário. Que teremos no futuro? "Que futuro?" - seria a pergunta certa. No mundo central, teremos fria competência no "mainstream" e "esponjas "alternativas" na periferia.
Hoje, a desesperança com qualquer hipótese de totalidade está parindo novas formas larvais de sobrevivência neste mundo decepcionante. E o que nos restará serão os buracos esgarçados por entre a solidez paranoica das corporações globais, estragando, como um terrorismo mudo, sua eficiência sinistra.
Essas tribos estão partindo para uma prática nietzschiana espontânea, pela produção de uma "arte-de-vida" (ou "vida-arte"), dividindo-se em grupos aparentemente antagônicos, mas coincidentes: não acreditam totalmente em nada.
Jean Baudrillard em seu ensaio A Ilusão Vital cita uma linda e profética frase de Heidegger: "Quando olhamos para a essência ambígua da tecnologia, nós contemplamos a constelação, o curso estelar do mistério". E Baudrillard, a ovelha negra das "Academias", conclui: "Além da Razão, além do discurso da "verdade", reside o valor poético e enigmático do pensamento. Pois, diante de um mundo que é ininteligível e problemático, nossa tarefa é clara: precisamos tornar este mundo ainda mais ininteligível, ainda mais enigmático".
Falou e disse.
Por Arnaldo Jabor para O Estado de S. Paulo
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Marchas caretas e marchas muito loucas
"A maconha marcha, gente boa... Até na Argentina, México e Colômbia está descriminalizada. Os tabus vão sendo quebrados. Aqui, as marchas foram liberadas pelo STF, numa decisão muito louca: pode marchar, mas não pode fumar. Por que será que a maconha provoca tanta inquietação? Evangélicos marcham contra, xingam FHC pelo filme Quebrando o Tabu, "mermão", qual é a deles? É tanto auê, tanta onda por causa de uma mixaria dessas que eu tenho de alugar vocês sobre essa "parada". É... já escrevi sobre esse lance aqui e repito: a maconha não é nada, ou quase nada. Não é uma droga que corrói o fígado como o álcool. Não mata como a cocaína, esse veneno de rato branco que você aspira, depois de malhada pelos afro-negões da favela; é erva natural, não tem o sangue jorrando atrás dela desde a Bolívia até os morros, nem precisa dos bujões de éter no meio da floresta. Não é como o ácido lisérgico que te faz ver uma grande gelatina na realidade, onde tudo se mexe como uma rumba azul. Por que, então, tanto medo?
Está provado que a birita, o cigarro careta fazem muito mais mal que uma frágil "diamba", um reles "bagulho", um baseadinho inocente... Aliás, declaram cientistas e doidões, a maconha faz até bem para o coração de muitos ansiosos; era comprada em qualquer farmácia nos anos 30 com o nome de Cigarros Indianos, lindos pacotinhos com uma índia de cocar colorido, cigarros que acalmavam a angústia das senhoras antigas, combatiam a depressão, as "flores brancas", as dismenorreias, as alvas enxaquecas, os desmaios histéricos, as dores desconhecidas, as insônias. A maconha, dizem os "manos", é o remédio melhor para o glaucoma e dizem que ela produz um relaxo legal nos músculos e uma tranquilidade que poucos calmantes te proporcionam. Muito médico acha que inúmeros remédios e panaceias poderiam advir do refino da mesma, para acalmar velhinhos em asilos, para tranquilizar agitados em suas camisas de força, ervinha que, uma vez fumada antes do ato sexual, provoca prazeres inauditos, podendo não só fazer com que ejaculadores precoces se segurem, quanto frígidas senhoras se soltem e uivem nos laços de um polvo invisível e voltejante, numa teia de loucos estertores entre gritos operísticos.
Isso dizem alguns, não eu, claro, que sou um pobre-diabo, nunca me aproximaria dessa erva do Demônio, dessa "maria juana" temível. Contam alguns que o prazer sexual aumenta muito, já que a noção de tempo também se alonga, ficando tudo em câmera lenta, coisa desagradável se você está num túnel ou num engarrafamento de trânsito, mas que é delicioso não nos dois braços, mas nos cinco braços, ou nas cinco asas brancas de uma mulher amada e que o amor vira uma grande dança num paraíso e que mesmo os lençóis brancos semelham ondas do mar, dependendo da qualidade do "back", que pode ser um "acapulco gold" ou mesmo um "da lata", (oh!!! As maravilhas que contam daquelas latas lançadas por um navio muito louco nas águas da Guanabara em 84 e que até hoje são lembradas por velhos chincheiros). Thomas de Quincey fumava, Baudelaire fumava, Rimbaud queimava altos haxixes em Aden... Em suma, gente boa, como eu dizia acima, dependendo da qualidade da "massa", "nêgo" podia ficar curtindo horas seguidas, ajudado pelo Hendrix, Stones... tudo muito louco.
Mas, a razão deste raciocínio - não posso me perder, "mermão" - é a seguinte transação: por que causa tanta raiva nos caretas? Todo mundo fala em "reacionário", de "esquerda", de "direita" e coisa e tal, e os caretas? Onde ficam? Muito da nossa desgraça política deve-se à caretice. Porque "careta" é o cara que vive com a cara torta, armando uma pose, fingindo que é democrata sem ser, fingindo que é honesto sendo ladrão. Os vícios se escondem atrás de uma "careta", daí a origem da expressão... ah, ah... tá ligado? Pega esses deputados e senadores aí, todos enforcados em gravatas e ternos escrotos e me respondam: por que temem tanto a "diamba", aquela turminha braba que depois da Câmara vai tudo encher a cara com uísque no Piantella, entre peruas, gargalhadas e conchavos, por que essa gangue tem tanto medo do fumo?
A resposta é simples, cara... Diferentemente da coca, da birita e outros bichos, a maconha libera o filho da mãe. O sujeito queima o fumo e dá um "relaxo". A vida fica mais democrática, gente boa; evola-se uma nuvem azulada nos céus, como uma espécie de inconsciente artificial, e o mundo fica diferente, as obsessões perdem a valia, as culpas, os superegos diminuem, e some a sensação de que a vida é uma grande Câmara dos Deputados, onde nunca há quorum para aprovar nossos desejos! Ah!... Ah!... boa comparação... E a vida fica mais bela que o bigode do Sarney ah ah... ou seja, a liberdade que ela provoca no sujeito é, digamos, "incopatível", como é que se diz mesmo? - im-com-pa-tível... ah... ah... essa palavra é muito louca, gente boa, a maconha é "incampatível" com a caretice necessária ao bom exercício da política. Me diz, me diz como um cara vai para a tribuna doidão para armar uma roubalheira? Como enfiar uma maracutaia numa MP com a cara cheia de um "paraguaio com mel", nem mesmo precisa um "skunk" , basta um "pernambuco light"...
Já imaginaram o Congresso muito louco? O Pedro Simon desbundando e indo morar em Trancoso, cheio de fitas no pescoço? O PC do B falando em "revolução interior"? Mas, que eu estava dizendo mesmo?... ah... lembrei... o seguinte: eu acho, numa "boa" mesmo, na "moral", que as autoridades têm medo da maconha porque ela dá uma ilusão de liberdade. Por isso, estão com tanto medo de comida de passarinho... ééé... ééé... Os canários cantam melhor com as sementes de "canabis"... E a sensação de liberdade é, como eu já disse, inco-incopa..."incopatível"...sei lá, deixa pra lá... E tem mais... o seguinte... quer dizer... esqueci... é isso aí, gente boa.... falei..."
Escrito por Arnaldo Jabor para O Estado de S. Paulo
Está provado que a birita, o cigarro careta fazem muito mais mal que uma frágil "diamba", um reles "bagulho", um baseadinho inocente... Aliás, declaram cientistas e doidões, a maconha faz até bem para o coração de muitos ansiosos; era comprada em qualquer farmácia nos anos 30 com o nome de Cigarros Indianos, lindos pacotinhos com uma índia de cocar colorido, cigarros que acalmavam a angústia das senhoras antigas, combatiam a depressão, as "flores brancas", as dismenorreias, as alvas enxaquecas, os desmaios histéricos, as dores desconhecidas, as insônias. A maconha, dizem os "manos", é o remédio melhor para o glaucoma e dizem que ela produz um relaxo legal nos músculos e uma tranquilidade que poucos calmantes te proporcionam. Muito médico acha que inúmeros remédios e panaceias poderiam advir do refino da mesma, para acalmar velhinhos em asilos, para tranquilizar agitados em suas camisas de força, ervinha que, uma vez fumada antes do ato sexual, provoca prazeres inauditos, podendo não só fazer com que ejaculadores precoces se segurem, quanto frígidas senhoras se soltem e uivem nos laços de um polvo invisível e voltejante, numa teia de loucos estertores entre gritos operísticos.
Isso dizem alguns, não eu, claro, que sou um pobre-diabo, nunca me aproximaria dessa erva do Demônio, dessa "maria juana" temível. Contam alguns que o prazer sexual aumenta muito, já que a noção de tempo também se alonga, ficando tudo em câmera lenta, coisa desagradável se você está num túnel ou num engarrafamento de trânsito, mas que é delicioso não nos dois braços, mas nos cinco braços, ou nas cinco asas brancas de uma mulher amada e que o amor vira uma grande dança num paraíso e que mesmo os lençóis brancos semelham ondas do mar, dependendo da qualidade do "back", que pode ser um "acapulco gold" ou mesmo um "da lata", (oh!!! As maravilhas que contam daquelas latas lançadas por um navio muito louco nas águas da Guanabara em 84 e que até hoje são lembradas por velhos chincheiros). Thomas de Quincey fumava, Baudelaire fumava, Rimbaud queimava altos haxixes em Aden... Em suma, gente boa, como eu dizia acima, dependendo da qualidade da "massa", "nêgo" podia ficar curtindo horas seguidas, ajudado pelo Hendrix, Stones... tudo muito louco.
Mas, a razão deste raciocínio - não posso me perder, "mermão" - é a seguinte transação: por que causa tanta raiva nos caretas? Todo mundo fala em "reacionário", de "esquerda", de "direita" e coisa e tal, e os caretas? Onde ficam? Muito da nossa desgraça política deve-se à caretice. Porque "careta" é o cara que vive com a cara torta, armando uma pose, fingindo que é democrata sem ser, fingindo que é honesto sendo ladrão. Os vícios se escondem atrás de uma "careta", daí a origem da expressão... ah, ah... tá ligado? Pega esses deputados e senadores aí, todos enforcados em gravatas e ternos escrotos e me respondam: por que temem tanto a "diamba", aquela turminha braba que depois da Câmara vai tudo encher a cara com uísque no Piantella, entre peruas, gargalhadas e conchavos, por que essa gangue tem tanto medo do fumo?
A resposta é simples, cara... Diferentemente da coca, da birita e outros bichos, a maconha libera o filho da mãe. O sujeito queima o fumo e dá um "relaxo". A vida fica mais democrática, gente boa; evola-se uma nuvem azulada nos céus, como uma espécie de inconsciente artificial, e o mundo fica diferente, as obsessões perdem a valia, as culpas, os superegos diminuem, e some a sensação de que a vida é uma grande Câmara dos Deputados, onde nunca há quorum para aprovar nossos desejos! Ah!... Ah!... boa comparação... E a vida fica mais bela que o bigode do Sarney ah ah... ou seja, a liberdade que ela provoca no sujeito é, digamos, "incopatível", como é que se diz mesmo? - im-com-pa-tível... ah... ah... essa palavra é muito louca, gente boa, a maconha é "incampatível" com a caretice necessária ao bom exercício da política. Me diz, me diz como um cara vai para a tribuna doidão para armar uma roubalheira? Como enfiar uma maracutaia numa MP com a cara cheia de um "paraguaio com mel", nem mesmo precisa um "skunk" , basta um "pernambuco light"...
Já imaginaram o Congresso muito louco? O Pedro Simon desbundando e indo morar em Trancoso, cheio de fitas no pescoço? O PC do B falando em "revolução interior"? Mas, que eu estava dizendo mesmo?... ah... lembrei... o seguinte: eu acho, numa "boa" mesmo, na "moral", que as autoridades têm medo da maconha porque ela dá uma ilusão de liberdade. Por isso, estão com tanto medo de comida de passarinho... ééé... ééé... Os canários cantam melhor com as sementes de "canabis"... E a sensação de liberdade é, como eu já disse, inco-incopa..."incopatível"...sei lá, deixa pra lá... E tem mais... o seguinte... quer dizer... esqueci... é isso aí, gente boa.... falei..."
Escrito por Arnaldo Jabor para O Estado de S. Paulo
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